Temos de nos habituar a isto? Sermos sustentáveis desta forma? Não protestar? - Isso é que era bom!
Para não chamar Isabel “Choné” vamos ter de ouvir o que a senhora disse e depois pensar um pouco. A polémica é grande a nível nacional. Já há quem queira queimar a senhora em público e outras coisas igualmente desconfortáveis. Mas grande parte dos que opinam a favor ou contra possivelmente não ouviram com atenção o que ela disse. Então oiçamos primeiro.
A senhora tem razão em muitas coisas que diz, mas tem algumas falhas, que deixam ficar no pensamento de quem não nasceu ontem, o que ela não disse, mas quase disse.
1 - Começando pelo copo de dentes. Então se ela critica nos próprios filhos lavar os dentes com água a correr em vez do copo de dentes, o que é que ela está a fazer como mãe? Não é que lavar os dentes com água correr abundantemente esteja certo, mas já houve tempos em que não se lavavam os dentes nem com copo (o copo e a escova custam dinheiro e se calhar vêm da China). Em tempos mais antigos, e ainda em muitos sítios em África, limpam os dentes com uma faca ou com um pauzinho, mas como não comem doces têm os dentes bons.
2 - “Os portugueses têm de aprender a viver com menos”. É verdade, mas é necessário explicar que portugueses. A senhora tem responsabilidades que não lhe deviam permitir dizer a uma pessoa a quem ela dá uma esmola “ O senhor ou a senhora tem de aprender a viver com menos”, quando essa pessoa vê o ministro Relvas chegar a uma reunião num Mercedes Benz CLS AMG que custa cerca de 160 000 Euros.
3 – “Vamos ter de aprender a empobrecer muito”. Mas quem tem de aprender a empobrecer? As pessoas que vestão a voltar a viver em barracas sem água nem torneira? Ou o Sr. Ulrich? O conselheiro António Borges, Dias Loureiro, Duarte Lima e outros que tais?
4 – “Ou vamos a um concerto de rock ou pagamos uma radiografia num hospital”. Pois também é em parte verdade. Um concerto de Rock com artistas estrangeiros, leva fortunas para fora do país, e o pouco que deixa no país vai para o bolso do genro do Presidente da República, ou mais uns poucos que organizam os tais concertos. A escolha de haver ou não haver estes concertos, de serem comprados os automóveis onde anda o Relvas, os telemóveis de última geração, etc., podiam ser proibidos pelo governo e ponto final. Mas não podem porque os países Europeus que também dizem que Portugal gasta mais do que pode (Angela Merkel, etc.), decidiram e impõem como ilegal os países limitarem as entradas de produtos de luxo nas suas fronteiras.
5 – “Se não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não podemos comer bifes todos os dias”. Mas eu pergunto, se uma pessoa não tem dinheiro para comer uma sopa todos os dias não come sopa todos os dias? Provou-se que aumentou a venda de papas de cereais tal como bem refere a jornalista. O que transparece é que aqueles que estão a comer bife dizem aos outros para não comerem bife, porque assim fica mais para eles.
6 – Foi à Grécia e viu miséria, mas acha ela: “Em Portugal podemos estar mais pobres mas não temos miséria” (minuto 3:12). Por onde anda a senhora? Talvez onde ela vive não haja pessoas a tirar comida dos contentores do lixo, mas começa a ver-se com não rara frequência em Lisboa e arredores. Eu vi várias vezes, só não tive coragem de tirar uma fotografia para mostrar.
7 – “Os pais continuam a educar mal os seus filhos, que continuam a viver em sua casa depois de adultos”. Pois eu vejo jovens com bons automóveis que é impossível serem comprados com dinheiro ganho por eles. Mas que classe social tem este privilégio? São os portugueses? A Sra não percebeu que uma das consequências da crise é o crescimento da desigualdade?
8 – “Porque não há dinheiro”. Não há dinheiro num local mas haverá noutros. O governo Português e outros não têm dinheiro para manter uma companhia aérea como a TAP, mas há um multimilionário, o empresário colombiano de origem polaca Sr. Germán Efromovich, que tem dinheiro para comprar a TAP. Se um negociante destes compra a TAP é porque esta lhe vai dar muito, muito dinheiro. Há muito dinheiro nas mãos dos que o ganharam injustamente e que o levaram para onde não pagam impostos. O que falta em Portugal é gente séria para gerir o que é de todos.
Em conclusão
O que foi dito podia bem passar sem críticas de maior se viesse de algum comentador de bancada sem responsabilidades especiais, ou de um político demagogo.
Algumas coisas são verdades, mas analisadas de uma forma superficial.
Ora esta senhora tem obrigação de conhecer o país real. Tem responsabilidades que outros não têm.
O que parece é que a Senhora transporta com ela os genes do Movimento Nacional Feminino (*), em que umas senhoras de “bem” ajudavam os pobrezinhos porque não tinham mais nada que fazer, ficava bem nas fotografias, eram agraciadas com os louvores dos bispos e cardeais e garantiam um lugar confortável no Céu. Bem referiu o comentador Daniel Oliveira a semelhança com a outra Sra. Supico Pinto.
(*) MNF - organização de suporte do Estado Novo criada por iniciativa de Cecília Supico Pinto e apoiada por António de Oliveira Salazar, voltada para a organização das mulheres em torno do apoio à Guerra Colonial (http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Nacional_Feminino).
Se a senhora não tem competência para educar os próprios filhos tem competência para receber milhões em donativos para distribuir aos seus pobrezinhos? Não façam mal à senhora mas deixem-na ir para casa. Eu e muitas pessoas não estarão disponíveis para contribuir este ano para uma organização cuja dirigente apela ao empobrecimento voluntário em vez do estímulo ao nosso orgulho próprio. As suas desculpas só confirmaram o que pensa. - uma submissão aos mais ricos. Se realmente pensa nos pobres, é altura de o provar - demita-se. Mesmo que as críticas que lhe fazem sejam injustas não pode prejudicar quem precisa de ajuda. Seja humilde e dê o lugar a outros.
A fórmula é tão antiga que até chateia.