A propósito da discussão sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa na Ota ou não na Ota, surgiu um argumento muito discutível e que interessa analisar. Aliás, este mesmo raciocínio já tem sido utilizado para outras situações ligadas à protecção do ambiente, aos licenciamentos de urbanizações em zonas de paisagem protegida, etc.
Dizem que a recusa de autorizar obras por motivos ambientais, seja, pelo corte de sobreiros, pelo impacte na fauna, pela poluição do ar, etc., não constituem argumentos válidos, porque daqui a alguns anos as zonas protegidas acabam sempre por ser destruídas. Portanto, se está perdida a longo prazo mais vale assumir já a destruição e resolver os problemas da forma mais fácil e barata para o momento actual. Não se pode parar o progresso.
Ora, este raciocínio enferma de alguns graves erros:
1. Assume-se à partida que as próximas gerações são tão más, incompetentes, e não respeitadoras do ambiente como a nossa.
2. Não se dá hipótese para que o país seja no futuro melhor do que é no presente no aspecto ambiental.
3. Deixa-se como herança aos nossos filhos, um Mundo natural destruído, que muito dificilmente ou nunca mais terá possibilidade de ser recuperado.
4. Antecipa-se para o presente um mal com apenas alguma probabilidade de acontecer no futuro.
5. Prioridade absoluta ao pessimismo em prejuízo do optimismo.
6. Dá-se um exemplo que pode ser levado a consequências imprevisíveis, seja, tudo o que poderíamos preservar para o futuro podemos destruir hoje, porque admitimos a fatalidade da destruição como inevitável.
Como exemplo veja-se o ridículo da situação: Como há a possibilidade dos mares e rios ficarem poluídos no futuro, então não gastemos dinheiro e energias a fazer estações de tratamento de lixos. Deitem-se livremente os poluentes para as águas. Afinal tudo acabará mais tarde ou mais cedo numa generalizada lixeira. - Quem pensa assim não vai longe.
Conclusão: Com este tipo de raciocínio deitaríamos abaixo todos os valores que têm contribuído para a evolução da sociedade e para a melhoria das condições de vida. Deus ou a democracia nos livrem de termos o país governado por pessoas derrotadas pelo futuro.