Toda a gente parece acreditar na justeza, qualidades morais e justiça perfeita, bom senso e equilíbrio dos mercados.
O mito de que os mercados não se enganam e não têm más intensões, está por provar.
Só por uma questão de fé se pode acreditar sem reflexão que os mercados são uma resposta justa e ajustada à realidade provocada por nós próprios, ou que nós nos pusemos a jeito para acontecer.
Vamos fazer um exercício mental seguinte:
Os mercados cobram juros baixos aos países de onde eles têm a garantia de receber o retorno dos empréstimos.
Quando os países têm reputação de seriedade duvidosa, os mercados cobram juros mais elevados, tanto mais elevados quanto maior for o risco de incumprimento.
Na tal suposição de os mercados serem inteligentes, justos e perfeitos, esses juros elevados são para compensar as perdas potenciais. Para o caso de não receberem a totalidade, eles devem assegurar maior lucro ajustado para compensar o risco e as perdas.
Se são realmente inteligentes e justos, calculam os valores em função das perdas que possam ocorrer de modo a não ficarem prejudicados.
Mas então, agora é que surgem as minhas dúvidas, se um país vier a cumprir totalmente os seus compromissos, acaba por devolver tudo o que pediu aos mercados, dando-lhe um lucro que eles nunca teriam com empréstimos seguros. Um excelente negócio para os mercados que pouco lucram com os países "sérios".
Aqui é que acho que começa a injustiça.
Se os devedores mais frágeis cumprirem, os mercados só deviam ficar com um lucro justo e não com lucro chamado especulativo, agiotagem, roubo.
Conclusão
Se as contas estão feitas para os mercados não perderem quando a dívida não é paga na totalidade, então não deve ser paga na totalidade.
A não ser que os juros demasiado elevados sejam para atingir outros fins, como sejam, obrigar os que pedem emprestado a pedir menos quantidade, pois não quero acreditar que seja por razões de castigo ou de aproveitamento das necessidades e fragilidades de quem tem de pedir.
Se a resposta for para limitar quem tem necessidade de pedir a não pedir muito, então bastaria definir uma regra de ninguém emprestar mais do que um certo valor.
Aliás é o que eu faço. Se um amigo me pede dinheiro emprestado, mas eu percebo, pela elevada quantia, que nunca me vai pagar, sendo amigo dele prefiro dizer-lhe que não empresto o que me pede, mas que lhe dou uma quantia inferior que me seja possível nunca receber. Assim mantenho o amigo, pois é uma certeza absoluta que se emprestarmos a quem nunca nos vai pagar, perdemos o dinheiro e o amigo.