Domingo, 1 de Julho de 2007

Heróis dos últimos tempos coloniais

Sá da Bandeira (1795–1876) general e estadista que lutou pela abolição da escravatura.

Silva Porto (1817–1890) – africanista que depois de várias andanças pelo ultramar português se estabeleceu no interior de Angola.

Serpa Pinto (1846-1901) - explorador que fez o reconhecimento do interior Sul de Angola, ao serviço da Sociedade de Geografia de Lisboa, tentando estabelecer a ocupação efectiva sobre os territórios do interior africano, de modo a ser reconhecida internacionalmente a respectiva soberania de Portugal.

Paiva Couceiro (1961–1944) governador de Angola.

... outros,

 000523zt  Selo de correio.

00050hke

Monumento a Norton de Matos em Nova Lisboa (hoje Huambo), rodeado por quatro estátuas representando as suas melhores virtudes.

Norton de Matos

     Falemos esta semana mais detalhadamente do general Norton de Matos (nome hoje conhecido de muitos, apenas por ser o de uma importante avenida de Lisboa a - Segunda Circular).

        José Mendes Ribeiro Norton de Matos, nascido em Ponte de Lima em 1867 e falecido também em Ponte de Lima em 1955, foi por duas vezes governador de Angola, a primeira entre 1912 e 1915 e a segunda entre 1921 e 1923.

    Norton de Matos, promovido a General por distinção, (depois de exonerado acintosamente de oficial do exército, acusado de deserção por Sidónio Pais, simpatizante germanófilo), foi então eleito pelo Senado como Alto-Comissário para Angola. Dotado de poderes legislativos e administrativos, mas lutando sempre, contra as forças mais retrógradas instaladas no Terreiro do Paço e territórios vizinhos, tomou posse para o segundo mandato, em Luanda, na residência oficial, em 16 de Abril de 1921, para dar início a um dos períodos de maior desenvolvimento e progresso da Província, dando continuidade ao programa que traçara durante o seu primeiro governo e introduzindo reformas que se perpetuaram pelos anos fora e permaneceram até à independência do território.

Todos os governadores de Angola do fim do século IXX e princípios do século XX que pretendessem fazer algo de positivo para o desenvolvimento do território tiveram uma permanência curta no poder, pois segundo as regras e estratégia da época, não era para isso que os mandavam para as colónias. Infelizmente isto aconteceu nomeadamente com os governadores: general Norton de Matos; António Vicente Ferreira; capitão Henrique Mitchel de Paiva Couceiro; major Manuel Maria Coelho; e outros.

O Governador-Geral Norton de Matos passou como um vendaval por Angola, nos anos que precederam a primeira grande guerra mundial, pondo fim à ocupação militar e iniciando a administração civil, demolindo e implantando novas estruturas, produzindo alguns fortes abanões na administração do território – os primeiros que se davam em Angola – os quais visavam a resolução dos constrangimentos ou a anulação dos interesses que as autoridades, industriais e comerciantes todos combinados e comodamente instalados na Praça do Comércio ou/e na “Baixa Lisboeta”, defendiam com quantas unhas e dentes possuíam. A larga visão desse Homem de Estado não pactuava com essas mentalidades mesquinhas e entendia que as Províncias Ultramarinas só poderiam desenvolver-se se os responsáveis pela sua administração pudessem dar resolução atempada aos problemas que afligiam os seus habitantes e impediam o normal desenvolvimento desses territórios. Norton de Matos ao desembarcar em Luanda, pela primeira vez, anunciou logo ao que vinha. O seu discurso de posse desenvolveu-se sob o tema: «Ordem e Progresso – tudo se contém nisto; respeito pela lei, justiça em tudo e todos, uma grande disciplina em todos os serviços, o mais inflexível rigor na repressão de todos os abusos, corrupções ou desonestidades, a mais severa fiscalização na administração dos dinheiros públicos, o mais franco auxílio a todas as iniciativas fecundas, uma decidida e eficaz protecção a todos os que dela careçam».

Foi no seu primeiro governo que se olhou para os problemas da agricultura e da pecuária coloniais de uma forma diferente, como factores eminentemente responsáveis pelo bem-estar físico e material dos seus habitantes (Mendes, 2000b).

Os Altos Comissários tinham poderes legislativos e administrativos que podiam usar, desde que não fossem contrários às ordens emanadas do Governo Central.

Obrigado, por força das circunstâncias a combater em várias frentes, Norton de Matos acabou por ser vencido pelas mesmas forças políticas que em Portugal se digladiavam, mas seu nome ficou na história enquanto que os dos outros, dos que se lhe opunham, há muito foram esquecidos…

     Fonte: Texto retirado em partes do documento “História dos Serviços Veterinários de Angola – Os primeiros anos”, da autoria de António Martins Mendes.

>

 00051p0k

Vicente Ferreira, alto comissário de Angola entre 1926 e 1928, entre outras coisas, deu impulso à construção um grande Laboratório de Patologia Veterinária, consolidando a existência de duas Estações Zootécnicas, doze Delegações de Sanidade Pecuária e contando já com 15 médicos-veterinários, com menos de 40 anos de idade e mais de 5 anos de permanência na Colónia.

O Alto Comissário, António Vicente Ferreira é mais conhecido por, fascinado pelas características do meio geográfico onde se localizava a cidade do Huambo, que Norton de Matos fundara em plena savana africana, mas que se mostrava poucos anos depois já pujante de vida e em pleno desenvolvimento, transferir para ela a capital de Angola especificando porém que «…até que se realize a mudança, a sede do Governo-Geral con­tinua na cidade de Luanda…» (Ferreira, 1926). Essa transferência porém nunca se concretizou e mesmo a sua elevação a sede de distrito demorou algumas dezenas de anos, embora fosse de toda a justiça pois o Huambo constitui «…uma unidade geográfica perfeita, quaisquer que sejam os aspectos por que seja encarada: geológico, orográfico, climático, agrícola ou populacional» (Pinto, 1955). 15 RPCV (2003) 98 (545) 11-18 Mendes, A. M.

    Enquanto que uns afirmam que estas figuras contribuíram positivamente para a história portuguesa no Mundo, outros dirão que contribuíram para a aculturação dos povos nativos. A única certeza é a de que se não tivessem sido os portugueses a ocupar esses território seriam outros, certamente menos tolerantes para os naturais do que nós portugueses fomos, que em vez de falarem português mais de 20 milhões de pessoas em África, falariam hoje inglês ou francês.

    Coincidência, tributo ou propaganda, o certo é que os heróis portugueses em África tiveram quase todos direito a nomes de novas cidades, avenidas e praças nas antigas colónias, principalmente em Angola e Moçambique, mas muito poucos no território Europeu.

   A mim parece-me que já não há heróis, ou não se cultivam heróis, poucos mereceriam ser heróis, e líderes que lideram, há muito pouco.

   O Mundo mudou. Actualmente cultiva-se mais a inveja e a intriga a qualquer preço.


00053a9h
  Local do monumento a Norton de Matos em 2006.


000560r2

             Local do monumento a Vicente Ferreira em 2005.

   00054hx9

   Local onde estão as estátuas removidas, furadas de balas,

   mas não destruídas das figuras citadas, num "jardim" do Huambo, em 2005.

publicado por Eu mesmo às 00:39

link do post | comentar | favorito
1 comentário:
De sofas paços de ferreira a 5 de Março de 2011 às 17:19
Encontrei este artigo por acaso, mas ainda bem que o encontrei. Obrigado.

Comentar post

pesquisar

 

Janeiro 2021

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

posts recentes

Capa manipuladora da opin...

Matemática de jornalistas

Jornalismo cada vez mais ...

Golpe de Trump - Estava-s...

Corona TVs

Devia ser Ana (des)Leal

Sandra Felgueira - a conf...

Isabel dos Santos vs Jorn...

Nos melhores panos caem f...

Salário dos motoristas de...

Querem lá ver que quem co...

Pedro Pardal Henriques & ...

Greve dos camionistas de ...

O homenzinho que nunca se...

Enfermeiros cirúrgicos – ...

Vira o disco e toca a mes...

Actual Comunicação Social...

Os sabe-tudo ...

Só o Armando Vara e o Sóc...

Confirma-se previsão de "...

arquivos

Janeiro 2021

Outubro 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Novembro 2019

Agosto 2019

Abril 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Novembro 2018

Outubro 2018

Agosto 2018

Maio 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Maio 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Julho 2009

Setembro 2008

Agosto 2008

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

tags

todas as tags

links recomendados

blogs SAPO