A partir de meados da década de oitenta do século passado (mais concretamente entre 1986 e 1995) a indústria da madeira em Portugal viveu um dos melhores períodos da sua história. A vinda dos deslocados das colónias africanas (mais de 600 000 pessoas), a entrada da Comunidade Europeia, as privatizações e o fim da “revolução” – estabilização do regime, vieram trazer um período de expansão económica de um razoável aumento do poder de compra, que permitiu que muitos portugueses comprassem novas casas e as tivessem de mobilar. A 12 de Junho de 1985, realizou-se a cerimónia da assinatura da Acta Final da adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, com envio de muitos fundos europeus para preparar a nossa integração e consolidar a coesão europeia (e enriquecer indevidamente alguns oportunistas).
A indústria da construção civil, da carpintaria e do mobiliário não tinham mãos a medir. Havia trabalho para todos, para os que sabiam trabalhar e para os curiosos. Na região do vale do rio Sousa (Paredes, Paços de Ferreira, Gondomar), havia indústrias instaladas em quintais, em vivendas, em simples garagens, e não era raro ver-se ocuparem a via pública para obras de pintura e acabamento de móveis.
Para alguns, neste período, o dinheiro não custava a ganhar. Nas duas fotos que se seguem vê-se como eram mal armazenadas as madeiras, supostamente para secar ao ar.
Estas madeiras, em vez de secarem, estavam a estragar-se. Por ano, cerca de 10% da madeira ficaria sem possibilidade de boa utilização. Ora um stock normal para uma empresa média pode ser de 1200 m3, que a um preço médio de 300 Euros o metro cúbico, dava um empate de capital de pouco mais ou memos 360 000 Euros. A perda de dinheiro por ano seria então calculada em cerca de 36 000 Euros (o preço de um automóvel de alta gama). Na altura, muitos industriais compravam muito mais madeira do a que precisavam, na esperança da grande inflação dos preços das matérias-primas lhe virem a dar grandes lucros especulativos.
No entanto, ainda em 2007, foi possível encontrar na mesma região, pelo menos um industrial “rico”, que se dá ainda ao luxo de estragar madeira. Veja-se a foto seguinte.
Para não mostrar apenas os maus exemplos, fica para terminar, a foto de um empilhamento para secagem ar ar, de alguém mais cuidadoso, ou “menos rico”, que não se dá ao luxo de deitar fora, todos os anos, o equivalente ao preço de um automóvel de alta gama.