Em Março de 2007 ainda há políticos e engenheiros em grande discussão sobre a necessidade ou não de construir um novo aeroporto em Lisboa. Ao que se sabe, há 30 anos que se começou a pensar que o aeroporto da Portela, já rodeado pela cidade, tinha de ser substituído por outro com maior capacidade e com garantia de maior segurança. Fizeram-se muitos estudos e a discussão final andou sempre à volta de duas localizações, a Ota e Rio Frio. A Ota é à beira de uma zona com relevo, sobre antigas pedreiras e circundada por montanhas (Montejunto) e pelo rio Tejo. Rio Frio é uma zona plana mas entre reservas ecológicas, áreas de migração de aves, Parque Natural do Estuário do Tejo e Reserva do Sado. Os terrenos são arenosos profundos com lençóis freáticos muito importantes e com sobreiros. Um aeroporto tem um impacte ambiental muito significativo como seja, o ruído, as contaminações do solo por óleos, a ocupação intensiva das áreas circundantes, etc. Não se deve esquecer que a passagem dos aviões produze sobre eles, e numa grande área, um acumular de gases queimados e partículas de combustível e de partículas de fumo. Tudo isto se pode infiltrar no solo se a terra for muito permeável.
Teoria da decisão
Para uma boa decisão, tanto em engenharia, como noutras escolhas, há metodologias que permitem um equilíbrio razoável entre os vários factores contra e a favôr da cada uma das possibilidades. Um dos métodos usado em engenharia de projecto baseia-se numa análise por Critérios ponderados.
Primeiro faz-se uma listagem dos critérios que vão servir para tomar a decisão, depois faz-se uma classificação da ordem de importância de cada decisão. No final faz-se a pontuação entre as soluções possíveis. O resultado da melhor solução aparece bastante afastado de factores subjectivos.
Novo Aeroporto de Lisboa
Critérios de ponderação para escolha do local:
A – financiamento Europeu;
B – capacidade de passageiros e movimentos de aviões;
C - duração de operação;
D - custo;
E – acessibilidade e proximidade de população utilizadora;
F – facilidade de construção;
G – segurança de voo
H - impacte ambiental
Determinação objectiva da ponderação de cada critério
>
Depois de definida a ponderação de cada critério faz-se a apreciação das duas soluções possíveis. No final faz-se um cálculo da classificação tendo em conta a ponderação de cada parâmetro.
=> Classificação
Conclusão final: A localização na Ota tem alguns inconvenientes mas é melhor do que Rio Frio
Nota: Isto é apenas uma demonstração: A realidade será obviamente mais complexa, mas a metodologia de decisão é esta.
Devem-se rejeitar argumentos como:
- Movimentar 50 milhões de m3 de terra é como fazer uma torre de areias sobre o estádio de Alvalade com 10 km de altura (fazendo as contas dá pouco mais de 6000m de altura, mesmo que seja só a dimensão do relvado). É muita terra!, mas em 15 km por 12 km é uma altura de 26 cm (a magia da matemática);
- É necessário deslocar 5 km de linhas de alta tensão (não deve ser possível um local perto de Lisboa onde não tenha de se movimentar alguma coisa);
- Só está calculado para um sismo de intensidade média (se mesmo assim já é caro, imagine-se para um sismo de máxima intensidade. Custa menos reparar a pista, quando e se, um dia for necessário);
- Capacidade esgota-se dentro de 30 anos (haverá petróleo em 2050 para aeroportos e aviões, com cada vez mais milhões de passageiros por ano?);
- Há locais melhores (onde estão?);
- Existe um entreposto de armazenamento de gás natural em Aveiras de Cima, a 2 minutos de voo da Ota (são mais de cinco quilómetros com serras pelo meio);
- Os terrenos são todos lodosos (só 13 % é que são lodosos);
- O aeroporto é longe de Lisboa ( e as pessoas de Leiria, Coimbra, Tomar, etc., não contam ?)
Tudo muito bem explicado na página da NAER
A nossa memória não deve ser curta.
Nota: foto verdadeira. Clicar para ampliar.
Talvez o tamanho dos aviões indicasse o peso internacional de cada protagonista desta triste história. Quatro anos depois vejam o que os iluminados fizeram.
Resultado => os grandes encolheram e o mais pequenote engordou. Não é curioso?
Portugal é bem caracterizado por uma falta de organização crónica, não por falta de inteligências nos campos científico e técnico, nem por falta de capacidade de trabalho dos portugueses. Os dirigentes têm uma função fundamental na condução das organizações e da sociedade. Infelizmente muitos gestores de instituições, especialmente no sector público, passam o seu tempo a fazer funções de chefe de turma, ou na versão adulta desta função, capatazes de obra, como se pode constatar nos seguintes exemplos:
a) Implementarem rigorosos sistemas de marcação de faltas (colocando barreiras de relógio de ponto na entrada das instalações, contratando seguranças, colocando câmaras de vídeo, etc.);
b) Fazerem processos disciplinares por qualquer mínima ameaça à sua autoridade, nomeadamente a alguém por organizar acções de formação interna de colaboradores (sem custos para a instituição);
c) Obrigarem todos os colaboradores a estarem calados (diga-se, sem iniciativa própria), seguindo o princípio de que mais vale um subordinado calado sem fazer nada, mas que não levante ondas, do que um que trabalha e peça condições para realizar novas tarefas;
d) Tudo fazerem para que não se aumentem os salários nem se facilite as promoções, etc.;
e) No estabelecimento de cotas para classificação dos funcionários, reservarem aos seus colaboradores próximos as classificações de excelente, deixando os restantes dirigentes intermédios numa situação embaraçosa, só com más classificações para distribuir;
f) Gestores que impedem um trabalhador de colaborar numa função de ensino a novas gerações nas horas de tolerância do tempo de serviço nas plataformas fixas, mas autorizam que esse mesmo tempo seja utilizado para ir ao cinema;
g) Com uma falta de sensibilidade total à realidade, divulgarem quase diariamente entre os seus colaboradores congressos, seminários, cursos, etc., em todos os locais do Mundo, com inscrições caríssimas, sem possibilidade alguma de um trabalhador por si próprio, e muito menos com verbas da instituição, ter acesso a tais acontecimentos;
h) Divulgarem quase diariamente, durante meses ou anos, novos empregos na Comissão Europeia ou outros cargos internacionais;
i) Exigirem para si próprios todas as condições, por exemplo, automóveis da alta gama para se deslocarem.
Em vez de se apoiarem nos quadros mais empenhados e competentes, fecham-se, e só ouvem conselhos dos oportunistas que desde cedo nas suas funções os rodeiam com salamaleques.
Na ânsia de organização, como não têm capacidade para identificar quem tem credibilidade e quem não tem, travam todas as iniciativas de trabalho dos colaboradores, tentando quase exclusivamente impor que todos estejam a horas de entrada e saída. Mas como conscientemente sabem que há fugas, mesmo às regras mais rigorosas (e há fugas), limitam o tempo máximo de trabalho diário a 9 horas. Quem honestamente trabalhar mais, não vê esse tempo compensado noutros dias de trabalho.
Resumo
No desejo de controlar o sistema, apenas incomodam e prejudicam quem faz o seu trabalho honestamente, deixando de fora os oportunistas, sempre bons aproveitadores de todas as fugas às regras estabelecidas.
Destes gestores incompetentes, incapazes de distinguir os que ajudam generosamente dos que tudo fazem para lucrar com as falhas da organização, não sai uma única ideia concreta para trabalho produtivo. Currículo inevitável de um gestor com as características enumeradas, levar à extinção ou à falência uma ou mais instituições e depois sair para reformas douradas. Os problemas ficam como sempre para serem resolvidos por quem é mais dedicado à casa.
PS: Nomes de instituições? Não é preciso. Universidades, Centros Tecnológicos, Laboratórios de Estado, Direcções Gerais, Empresas Públicas, etc., etc..
Imaginação fértil? Talvez não! Surpresa, só para quem anda muito distraído.
Mauzinho
entrevista
António Campos
[Jornal de Notícias]
2005-06-27
"Governo deve proibir financiamento ao pinheiro"
Salvar a área florestal do País só será possível com o seu ordenamento e a reintrodução das espécies autóctones, como carvalhos e castanheiros, defende António Campos, ex-eurodeputado socialista, em entrevista ao JN .
Tem-se afirmado, desde sempre, que o problema dos incêndios florestais tem mais a ver com o ordenamento florestal do que com os meios disponíveis...
Honras sejam feitas a D. Dinis e a Aquilino Ribeiro, que eram bons técnicos florestais. O primeiro porque soube plantar o pinhal no sítio certo, em terrenos arenosos, encostado ao mar, sabendo que se tratam de resinosas que funcionam como um fósforo. Depois, Aquilino Ribeiro explicou muito bem a situação, no livro "Quando os Lobos Uivam", que todos os técnicos deviam ler, e não leram. Por isso, a multiplicação destas árvores só foi possível num país sorna.
J.N. - Mas essas árvores têm algum valor económico?
A madeira do pinheiro não tem valor. Custa cerca de 35 euros a tonelada, é vendida quando as árvores têm uma média de idade de 12 anos e não dão trabalho nenhum. No entanto, o Estado continua a financiar e os serviços a aconselhar a plantação de pinheiros. É bom não esquecer que a nossa floresta era de carvalhos, cuja madeira custa 600 euros a tonelada, e de castanheiros, que vale 750 euros.
J. N. - Como se resolve a questão?
É fundamental que o Governo proíba o financiamento ao pinheiro e faça a sua zonagem. Devia proibir o pinhal em solos bons ou regulares e incentivar o carvalho, castanheiro e a bétula que, além de serem as espécies originais, são muito mais resistentes ao fogo e preservam o solo. Através da queda da folha tornam os solos mais permeáveis à água.
J. N. - O eucalipto é igual?
O eucalipto interessou às indústrias de celulose. Foi um interesse de circunstância. Há dez anos que o valor dessa madeira é de 25 euros a tonelada. É uma árvore de crescimento rápido, mas já não temos capacidade para competir com a América Latina, onde cresce em metade do tempo e tem uma produção muito maior. Por isso, desde há dois anos que as celulosas também estão a deixar arder os seu eucaliptos. A plantação de eucaliptos decresceu, as pessoas perceberam que foram enganadas. Mesmo assim, mais de metade da floresta portuguesa é de pinheiros e eucaliptos, quando devia ser 90% de carvalhos e castanheiros.
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Este eucalipto vive perto de Mértola, no cimo de uma colina sem pinga de água, sobre um solo de xisto.
«A limpeza da floresta é um mito»
Numa entrevista dada à revista Visão nº 545, de 14 de Agosto de 2003, o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles explicou como se deveria reordenar a paisagem portuguesa depois dos grandes incêndios de 2003, sem pinheiros nem eucaliptos.
Recordemos algumas das perguntas e respostas dadas na altura.
VISÃO: Quais são as causas desta calamidade dos incêndios?
GONÇALO RIBEIRO TELLES: A grande causa é um mau ordenamento do território, ou seja, a florestação extensiva com pinheiros e eucaliptos, de madeira para as celuloses e para a construção civil. O problema foi uma má ideia para o País, a de que Portugal é um país florestal. Lançou-se a ideia de que, tirando 12% de solos férteis, tudo o resto só tem possibilidades económicas em termos de povoamentos florestais industriais.
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No século XIX, o pinheiro bravo veio para responder às necessidades do caminho-de-ferro que estava em lançamento. Mais tarde é que vem a resina, a indústria da madeira e a celulose. O pior é que se transformou o País num território despovoado e que, dadas as características mediterrânicas, arde até com as trovoadas secas.
VISÃO: A excessiva divisão do território (em meio milhão de proprietários) dificulta as limpezas florestais?
GONÇALO RIBEIRO TELLES: A limpeza da floresta é um mito.
O que se limpa na floresta, a matéria orgânica? E o que se faz à matéria orgânica, deita-se fora, queima-se? Dantes era com essa matéria que se ia mantendo a agricultura em boas condições e melhorando a qualidade dos solos. E, ao mesmo tempo, era mantida a quantidade suficiente na mata para que houvesse uma maior capacidade de retenção da água. Com a limpeza exaustiva transformamos a mata num espelho e a água corre mais velozmente e menos se retém na mata, portanto mais seco fica o ambiente.
VISÃO: Defende uma mata com que tipo de madeiras?
GONÇALO RIBEIRO TELLES: Madeiras para celulose é difícil porque temos agora uma forte concorrência no resto do mundo. Os eucaliptais, para serem mais rentáveis, só poderiam sê-lo no Minho que é onde chove mais de 800 mm ao ano. O eucalipto precisa de muita água e Portugal não pode concorrer com o Brasil e a África em termos de custo. Só se transformarmos o Minho num eucaliptal. Pode-se optar pelas madeiras de qualidade da cultura mediterrânica como todos os carvalhos, o sobreiro, a azinheira e pinhais criteriosamente distribuídos.
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