Para todos os males um único medicamente. Enfim o segredo da pedra filosofal para as economias, que em vez de transformar pedras em ouro, transforma os países endividados em países desenvolvidos e cultos.
PORTUGAL
A austeridade cura todos os desvarios e aventuras de todos os povos. Nós portugueses já sabemos isto por experiência própria.
A economia foi-se abaixo com as PPPs de Sócrates, não com o BPN, as Tecnoformas para técnicos de aeródromos de Passos e Relvas, nem com os submarinos, blindados Pandur e 60 000 fotocópias de Paulo Portas.
Agora com a austeridade à classe média o país já está melhor (os portugueses ainda não).
Como o remédio foi tão bom pode-se recomendar a outros doentes.
UCRÂNIA
A Ucrânia está à beira da banca rota. Um dos países mais pobres da Europa.
O FMI prometeu um destes dias um empréstimo a juros baixos, mas em contrapartida o pais tem de tomar fortes medidas de austeridade. Vão ter de baixar os valores das baixíssimas aposentações, vão ter de privatizar os sectores públicos que ainda tenham alguma viabilidade (portanto ainda davam lucro), e desvalorizar fortemente a moeda.
Mas que grande ajuda. Que amigos tão desinteressados.
Estás pobre? Então para melhorar a tua situação terás de ficar ainda mais pobre.
Eu não percebo!
Alguém percebe?
Se os economistas não sabem nada melhor não façam nem digam mais nada. Por favor.
GUINÉ BISSAU
Um conselho aos povos da Guiné Bissau (talvez o país mais pobre do Mundo).
Por favor não peçam nada ao FMI nem à Europa da Srª Merkel.
Aí entram no buraco, ai entram! Vão ter de entregar as tabancas ao DeutchBank e as ilhas do Bijagós aos chineses.
O nosso comentador político/económico, o bem conhecido “masca pevides” usa muitas vezes a comparação entre uma dona de casa e um ministro da economia de um país.
Uma dona de casa não pode ir à praça e gastar mais do que o dinheiro que traz na carteira. Caso contrário fica com dívidas na mercearia, que vai ter de pagar no dia seguinte com as despesas desse próprio dia. Não resolvendo o seu problema fica cada vez mais endividada, mas o merceeiro vai-lhe fiando porque sabe que ela tem uma casa e um carro. Tudo verdade.
Para resolver esta crise a longo prazo há duas estratégias:
Estratégia 1 - Tentar ir pagando a dívida a pouco e pouco e gastar o menos possível. Na verdade percebe que o mais acertado seria encontrar um emprego mais bem pago, mas para tal teria de ter mais habilitações e competências, o que já não é possível na sua idade e situação, só lhe restando pôr os filhos a estudar e prepará-los melhor para o futuro. Para equilibrar tudo isto tentar dizer ao merceeiro que lhe vai pagar mas vai demorar mais tempo do que o combinado inicialmente. Ela bem lhe diz que mais tarde ela se pode tornar uma boa cliente e cumpridora.
Estratégia 2 – Entregar todos os seus bens, a casa e o carro ao credor das suas dívidas e enviar os filhos para o estrangeiro para trabalharem para eles próprios. Poderia assim cumprir de imediato a sua dívida. Tendo perdido a casa e não tendo filhos consigo teria de se mudar para a velha aldeia. Não tendo também transportes para ir trabalhar na cidade mais próxima teria de se contentar com um emprego muito pior e mais mal pago. Mas pelo menos não devia nada a ninguém.
Resultados práticos
Relativamente à estratégia 1 o merceeiro não vai aceitar de bom grado, então força mesmo a solução da estratégia 2. O que ele quer é o seu dinheirinho mais depressa possível.
O que acontece a longo prazo
A senhora pagou toda a sua dívida e mudou-se para a aldeia. Vive mal, mas lá vai vivendo. Vai plantando umas batatas e umas galinhas de torna-se quase independente, voltando à vida dos seus bisavôs.
Entretanto merceeiro recebeu todo o dinheiro de uma vez mas perdeu a cliente que o alimentava. Despede mais um dos seus ajudantes e passa os dias encostado com pouco ou nada para fazer. Dali a pouco tempo também ele vai pedir emprestado a uns amigos e deixa de ter os filhos a estudar. Vai também acabar por ter de voltar para a aldeia e fica ao nível da sua antiga cliente, mas depois de uma quebra ainda mais drástica do que a da sua antiga cliente.
Conclusão
No final da história a ganância do merceeiro endinheirado deu em todos ficaram mais pobres.
Na realidade é mesmo assim, os povos mais atrasados são mais independentes e sustentáveis. Vivem pior mas de forma atrasada, sem qualidade de habitação, educação, cuidados de saúde, alimentação para subsistir dia a dia.
São sempre os que têm mais os que têm mais a perder. Numa crise de bairro como o descrito no exemplo são os mais ricos os que acabam por levar o tombo mais doloroso.
Se a história acabar assim deitam-se pela janela fora centenas de anos de desenvolvimento social e volta-se a uma sociedade com meia dúzia de senhores feudais e uma multidão de escravos. São as ondulações das sociedades. Está montada uma fábrica de revoluções violentas, (cruzadas religiosas, comunistas, outras novas formas ainda desconhecidas).
Agora o trabalho de fazer a comparação de uma dona de casa e seu merceeiro com um país, fica ao cuidado dos leitores que tiveram a paciência de ter lido este texto até ao fim e o tenham compreendido.
Na física diz-se que tudo está em equilíbrio ou a tender para um estado de equilíbrio.
Na política é mais realista dizer-se que, ou se está a caminhar para o equilíbrio, ou a afastar do equilíbrio.
Na verdade as sociedades estão sempre em movimento, por esta razão há duas possibilidades, ou variam dentro de certos limites ou vão até um extremo de radicalismo e depois, num movimento violento ou revolucionário, invertem o sentido em que caminhavam.
O que pretendo dizer é bem demonstrado no movimento pendular da política, exemplificado em dois modelos:
Como se vê na figura, o movimento do pêndulo é impulsionado por duas forças (tendências) contrárias que atuam à vez, as "nacionalizações" e as "privatizações".
A forma de sabermos em que direção caminhamos torna-se assim fácil de identificar. Basta ver num determinado momento qual a tendência predominante "nacionalizações" ou "privatizações".
Quanto mais desequilibrado forem estas forças contraditórias mais alto vai o pendulo num dos extremos.
Quando o pêndulo atinge o ponto mais alto num dos lados só pode começar a descer e vai a toda a velocidade na direção do outro extremo.
Na impossibilidade de impedir este movimento pendular da política e das sociedades, o ideal seria que estes movimentos não atingissem os extremos, portanto que as amplitudes sejam pequenas. É o que se vai conseguindo com sucesso nos países mais desenvolvidos, nas democracias participativas.
Conclusão
Vejamos a situação de Portugal. Com esta explicação, e lendo as notícias da política nacional, todos percebem em que direção caminhamos neste momento.
O pior é que vamos com tante força que vamos seguramente atingir o ponto mais alto de um dos extremos, portanto com grande potencial para inverter o movimento e caminhar depois a grande velocidade para o extremo oposto.
Como expliquei, Portugal tem todas as caraterísticas dos países subdesenvolvidos, em que o pêndulo tem grandes amplitudes.
Tanto pior para nós. Vejam no lado direito do modelo 1 no que nos vamos tornar.
Isto vai estar melhor para uns quantos e muito mal para quase todos.