Ir ao emprego para nada?
Todos os dias as entradas das grandes cidades se enchem de automóveis, assim como as estações dos comboios e as paragens dos autocarros. Os únicos transportes que se vêm todas as manhãs com pouco que fazer são os táxis – longas filas de carros parados nas praças.
Portanto as pessoas vão para qualquer lado fazer alguma coisa – supostamente trabalhar.
Mas quem trabalha tem de produzir alguma coisa. E se alguma coisa se produz tem de aparecer produto, quer sejam calças ou sapatos, quer sejam automóveis ou computadores, isto nas cidades e seus arredores. Mas na verdade os transportes que se vêem ao longo do dia cruzar as cidades são os caminhões do Continente e do Pingo Doce, além de muitas camionetas de carga de areia e entulho das obras.
Então se os portugueses das cidades vão para os trabalhos e não fazem “produto” visível, então o que fazem? Passam os dias a escrever em computadores importados, a fazerem pesquisas de internet em software comprado, a verem os e-mails dos colegas e dos amigos e os filmes do YouTube, a consultar a previsão do tempo que fará nos dias seguintes, etc.. Os professores, os juízes e os médicos, assim como as profissões liberais vão atendendo os seus clientes nos seus escritórios, e os bancos e seguradoras vão fazendo os seus negócios, mas continua a não haver criação de riqueza que se possa vender a alguém, para pagar os automóveis onde nos deslocamos ou os computadores onde escrevemos e lemos as mensagens dos nossos colegas e amigos.
Tirando a actividade de atendimento turístico – restaurantes e hotéis pouco mais parece fazer-se. Nem pregos, nem camisas, nada se faz que valha dinheiro.
Então e fora das cidades? Bom nos campos pouca agricultura se faz, assim como quase desapareceu a produção de leite, a pesca, as produção de milho e batatas. Os nossos campos servem para plantar árvores para fazer papel e rolhas de cortiça, alguma fruta e muito vinho, mas fica mais ou menos por aqui. Os recursos mineiros e petróleo não existem.
Ainda estão admirados porque devemos dinheiro ao estrangeiro? Eu já não estou.
Mas então, se não conseguimos ou não temos dinheiro para comprar o que nos habituámos a consumir, então temos de viver com o que temos. Vamos passar a ter de nos contentar com usar a roupa mais tempo, a comprar sapatos fabricados em Portugal mesmo que mais feios e pior qualidade, a escolher no supermercado a fruta e hortaliças portuguesas e deixar de comprar salmão para em vez disto comer frango de aviário, etc. Só assim chegaremos a um novo equilíbrio.
Quanto às cidades, para muitos de nós seria mais rentável deixar de ir ao trabalho, não consumindo gasolina cada vez mais cara, assim como os bilhetes dos transportes, não estragaríamos os nossos velhos carrinhos, e deixaríamos de gastar electricidade, papel e tinta de impressoras nos serviços. Em vez de casa novas com móveis do Ikea, devíamos era restaurar as muitas casas mais antigas que estão vazias nas grandes cidades. Além do principal, que era evitar o stress diário e deixar de pedir empréstimos aos bancos.
Nós iríamos ao encontro do nosso equilíbrio e sustentabilidade e talvez fossemos mais felizes. Em vez das mensagens de computador conversaríamos mais com os vizinhos.
Mas os nossos severos críticos nacionais e estrangeiros ficariam contentes por nos tornarmos no Portugal dos pequeninos? Os políticos dos vários partidos não certamente. Quanto aos estrangeiros também não. Nem os holandeses que nos vendem as batatas e o leite, nem os alemães e os franceses que nos vendem os automóveis, submarinos e comboios, nem os coreanos e chineses que nos vendem os computadores e os televisores, ou até os árabes que nos vendem o petróleo, ou ainda os bancos suíços e americanos que nos emprestam o dinheiro que eles próprios roubaram aos ditadores dos países pobres ou receberam dos barões da droga e dos negócios ilegais.
Conclusão
Estamos onde estamos por nossa culpa, mas também porque os nossos parceiros internacionais também querem que isto aconteça. O mal de uns é o bem de outros. A riqueza mundial é constante, o que acontece é que está permanentemente a mudar de mãos. Isto é na realidade um Mundo-cão. É importante rosnar alto e ter dentes afiados para sobreviver com pouco esforço. São poucos os cidadãos do Mundo que são verdadeiramente generosos e sinceros.
Viver dos rendimentos.