Terça-feira, 1 de Maio de 2012

Terminou a sensura. Agora só temos sensura e ..., outras coisas

38 anos depois do 25 de Abril

O meu texto foi escrito e adaptado com base numa reflexão publicada em

http://resistir.info/portugal/censura_25abr12.html

de onde aproveitei o que me pareceu o melhor e completei ou retirei o pior.

Intervenção realizada no Centro Republicano e Democrática de Fânzeres (Gondomar) nas comemorações do 38º aniversário do 25 de Abril.

O trabalho prático da Comunicação Social / Empresa, toda nas mãos de endinheirados, ou endividados, é feito por jornalistas, que são na sua quase generalidade zelosos cumpridores das ordens dos patrões. O Preservativo económico aprisiona os jornalistas. Hoje os censores não são coronéis, não usam lápis vermelho ou lápis azul. Usam fatos caros, perfume de marca, palavras suaves e dão palmadinhas nas costas dos jornalistas, que são cada vez mais trabalhadores precários e mal pagos. 38 anos depois do 25 de Abril a censura e a autocensura é feita através de um apertado preservativo económico que impõe o PU (Pensamento Único).

A Censura era o preservativo do regime fascista. Por isso os jornais estavam impedidos de parir notícias onde se referissem surtos de cólera, suicídios, barracas, aumento de preços, guerra, drogas, gripes, fome, greves, fraudes e infidelidades conjugais. Racismo.

O país tinha um Pai - que alguns ainda há bem pouco elegeram como o grande português - que não viajava, não adoecia, não sofria acidentes de viação; e alguns santuários, onde se zelava e zela para que o povo não saia dos caminhos da perdição e das troikas.

O ópio das multidões - a Informação que hoje nos servem, é assim, a modos como o novo ópio. E é, também em boa medida, uma Informação censurada e autocensurada, tanto pelos interesses políticos de quem manda, como pelos interesses económicos e simpatias de quem a serve. (Ex: Um assessor de longa data do professor Cavaco lamentou, ainda recentemente, que “uma informação não domesticada constitui uma ameaça com a qual nem sempre se sabe lidar”) .

Eduardo Galeano, escritor, jornalista e humanista uruguaio, diz que o Mundo é hoje dominado por uma “ordem criminosa”.

Uma ordem criminosa cujas “corporações controlando os governos de quase todo o planeta, dispondo também de instituições como o FMI, a OMC e o Banco Mundial para defender os seus interesses” leva a que hoje “500 empresas detenham mais de 50% do PIB Mundial, sendo que muitas delas pertencem a um mesmo grupo”.

Uma ordem criminosa, que se apoderou da Imprensa mundial e a coloca aos serviços das suas estratégias ideológicas, económicas e financeiras.

E isso explica várias coisas. Como estas que aqui se deixam:

- O despedimento cirúrgico de jornalistas seniores, respeitados entre a classe e com capacidade interventiva e reinvidicativa;

- A opção por jovens jornalistas pagos com baixos salários ou pagos à peça, sem capacidade interventiva e reinvidicativa. Sem memória também;

- O pagamento milionário a algumas “damas” e a alguns “cavalheiros” para que assistam à missa dominical do prof. Marcelo ou à novena do dr. Marques Mendes, à quinta-feira;

Tudo em nome das audiências e da sustentabilidade financeira!

Num mundo dominado pela ordem criminosa de que nos fala Galeano, fazer uma Imprensa séria, alternativa, uma Imprensa de contra poder e não de quarto poder, como alguns defendiam, é cada vez mais difícil. É hoje uma tarefa financeira quase impossível, nomeadamente quando se pretende que essa outra Imprensa seja feita em suporte de papel. Explico: nenhum jornal de contrapoder sobreviverá através da sua venda; nenhum patrão o apoiará financeira e publicitariamente; nenhum acompanhante de mais ou menos luxo, como agora se diz, trocará o “RELAX” do Correio da Manhã e do Sol, por um jornal a sério.

Impossível sobretudo nesta Europa dominada por mercados e mercadores que a encaminham para o maior retrocesso civilizacional de que há memória.

A Internet é, pelo menos por agora, um suporte alternativo, ou ainda através da leitura do periódico Le Monde Diplomatique, que o jornalista e sociólogo galego Ignacio Ramonet dirige desde 1991;

Ou, também, e entre nós pela leitura dos sítios:

- cinco dias;

- o diario.info;

- resistir.info.

Por exemplo, só assim ficaremos a saber a razão que levou o farmacêutico Dimitris Christoulas a suicidar-se, com um tiro, junto ao parlamento grego.

Eis a carta do herói da Praça Syntagma:

O governo de ocupação aniquilou-me literalmente qualquer possibilidade de sobrevivência dado que o meu rendimento era inteiramente proveniente de uma pensão que eu, sem qualquer apoio de ninguém nem do Estado, financiei durante 35 anos.

Porque a minha idade me impede de assumir uma acção radical (se não fosse isso, se um cidadão decidisse lutar com uma Kalashnikov, eu seria o primeiro a segui-lo), não me resta nenhuma solução excepto colocar um fim decente à minha vida antes de ser forçado a procurar comida nos caixotes do lixo e de ser um peso para os meus filhos.

Eu acredito que a juventude sem futuro brevemente se erguerá [literalmente: “empunhará armas”] e enforcará todos os traidores nacionais de cabeça para baixo, como os Italianos fizeram a Mussolini em 1945”.

 Nota final: Portugal do Salazar antes do 25 de Abril tinha um lema:

“Deus, Pátria, Família”,

Agora no Portugal do Cavaco e “Paços Cuelho”, temos o novo lema:

“Adeus Pátria e Família”

publicado por Eu mesmo às 23:06

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