A propósito da polémica dos descontos de 50% nos supermercados do "Sem Pingo Doce de Vergonha", começou a saber-se que estudos de entidades independentes concluíram que em muitos produtos de origem agrícola as margens de lucro das grandes cadeias de supermercados eram de 60 % a 80 %. A justificação dada pelos amigos dos supermerceeiros é que nestes estabelecimentos os produtos com prazos curtos de validade se estragam e há perdas importantes. Ora isto só em parte é verdade. É bem possível que vão para o lixo algumas alfaces, algumas maçãs e poucas batatas. Mas também é verdade que os consumidores compram maçãs farinhentas e peras murchas por dentro e a grande maioria eles não reclama. Ou seja os supermercados compram coisas a baixo custo e vendem ao preço normal artigos que o consumidor deita no lixo.
Afinal quem deita no lixo os produtos sem qualidade ou quase fora do prazo não são só os supermercados, mas a maioria das vezes o cliente final.
Mas mesmo admitindo que há riscos para o comerciante, o que são alguns quilos comparados com o risco dos agricultores de perderem toda uma colheita porque fez frio, porque fez calor, porque não choveu, porque choveu a mais, porque caiu granizo, porque deu doença, etc., etc., etc..
Mesmo que não fosse evidente esta minha explicação bastava olhar à volta e ver quem tem razão. Em Portugal há três cadeias de supermercados distribuidores de alimentos:
Por acaso ou talvez não, estes três senhores estão no topo da lista dos homens mais ricos de Portugal.
Todas as outras justificação são inúteis. Que são empreendedores, que dão emprego a muita gente, etc., etc.
Se dão vantagens aos outros a maior das maiores vantagens guardam para si próprios, enquanto que a agricultura nacional está completamente falida e descapitalizada. Tudo ou quase tudo é importado através dos contratos internacionais daqueles grandes "beneméritos e amigos do povo".
Para finalizar. Sou eu que estou a ver mal a realidade? Porque razão os comentadores dos meios de comunicação não dão opinião sobre este assunto. Com alguma honrosa excepção de Miguel Sousa Tavares ou de Daniel Oliveira, poucos mais vão contra a ignorância e indiferença geral. Até o agricultor chefe (Paulinho das feiras) está bem instalado no sofá, calado como um rato, confortavelmente encostado à árvore do poder, na companhia do amigo Jacinto Leite Capelo Rego, à sombra da conta recheada dos submarinos.