Os motivos de prisão de Armando Vara no processo Marquês não podem ser conhecidos porque estão em segredo de justiça. excepção feita por especial favor ao Correio Da Manhã e revista Sábado. (Desta vez o Sol não conseguiu nada. Felícia Cabrita, desde o livro do Homem Invulgar, foi-se abaixo).
Mas o acórdão do processo Face Oculta já não está em segredo de justiça. Qualquer um pode ler, mas não se encontra facilmente.
Podem consultar e imprimir aqui (clicar):
págs. 874 a 877
Escuta a Armando Vara ocorrida em 18-06-2009, pelas 22.17 horas, entre Francisco Bandeira e Armando Vara, cujo teor é o seguinte:
Pág. 874
“Armando Vara - Sim.
Francisco Bandeira - Ó pá. Desculpa lá estar-te a chatear.
Armando Vara - Então ?
Francisco Bandeira - Ó pá tu sabes alguma… oh, a gaja demitiu o Cardoso dos Reis. Então, a três meses das eleições vai demitir o gajo !
Armando Vara - Como é que é ?
Francisco Bandeira - Oh pá, demitiu o gajo. Eh pá diz que foi o Primeiro Ministro e (imperceptível)… eh pá, um gajo nosso… (imperceptível), desde há trinta anos, é pá, esta merda está porreira, pá, um gajo dá tiros nos pés, carago.
Armando Vara - Coisa esquisita !
Francisco Bandeira - (imperceptível) jantar com o gajo ao galito ou o carago.
Armando Vara - Mas demitiu com que justificação ?
Pág.875
Francisco Bandeira - Oh pá, não sei, pá… não estive com o gajo, pá. “É preciso mudar nesta altura, pá, é preciso mudar !”
Armando Vara - É pá, vou fazer… vou mandar uma mensagem, o gajo está lá pr’a…
Francisco Bandeira - Uhh ?
Armando Vara - Vou mandar uma mensagem.
Francisco Bandeira - A quem ? Ao gajo ?
Armando Vara - Não. Ao Primeiro.
Francisco Bandeira - É pá, vê lá isso, pá.
Armando Vara - Tá, tá, até já. (…)
Armando Vara - Até logo.” (Produto 253, do Alvo 1X372M).
A segunda conversa ocorreu logo na manhã do dia seguinte (19-06-2009, pelas 11.08 horas), entre o depoente Francisco Cardoso dos Reis e Armando Vara, cujo teor do diálogo é o seguinte:
“Armando Vara - Francisco !
Francisco Reis - Tás bom ? (…)
Armando Vara - Já foste…
Francisco Reis - (imperceptível)… Se ?
Armando Vara - Já foste notificado que continuas ?
Francisco Reis - Não. É pá, eu só queria saber o que, a tua opinião. Eu tenho uma carta feita a pôr o meu lugar à disposição do Governo…
Armando Vara - Ehh !
Francisco Reis - …com o meu sentido de lealdade que tenho que ter.
Armando Vara - Oh pá, mas… (imperceptível).
Francisco Reis - O Senhor Primeiro Ministro, pá…
Armando Vara - Sim !
Francisco Reis - …o Senhor Primeiro Ministro quer fazer alterações e eu imediatamente ponho o lugar à disposição. Ponto final.
Pág. 876
Armando Vara - O Primeiro Ministro hoje deve, deve… já falou ao Mário Lino, já ficou fodido com o assunto, não é ! E, tanto quanto eu percebo, já deu instruções para parar tudo. O movimento do não sei quê e o caraças…
Francisco Reis - É pá, eu acho isto uma loucura completa. A gaja passou-se dos cornos, pá.
Armando Vara - Ah ! Ah ! A gaja é tola.
Francisco Reis - Ela passou-se dos cornos, pá… (imperceptível).
Armando Vara - O que foi que ela te disse ? O que é que ela te disse ? Que ias sair dali, prós, prós Portos ?
Francisco Reis - Ela disse-me, ela disse-me o seguinte: “Olha, tenho duas notícias para ti. Uma boa e uma má. A má é que o, isso sabes como é que é estas coisas, o Primeiro Ministro, o Ministro querem fazer alterações e mais não sei que mais, pá, portanto nós temos que mexer aqui nas empresas, pá, e tu devias sair da CP. É pá, a boa notícia é que vais para administrador do IPTM.”
Armando Vara - Uh !
Francisco Reis - Eu disse: “É pá, olha. Eh, a minha resposta é a seguinte: vou pensar, eh, há uma coisa que eu te digo. É que não te vou deixar pendurada, nem ó Governo. Portanto, ah… das duas uma: ou saio porque vou para outro sítio, pá… eh, ou aceito aquilo que me… (imperceptível)”
Armando Vara - Uh !
Francisco Reis - Não te vou é entalar-te e deixar-te numa situação, eh, eh, delicada. Da forma como ela me diz, pá, eu, eu penso, o Mário Lino está por trás disto e o Sócrates também. Portanto, é pá.
Armando Vara - Não. O Sócrates não estava, pá. Então mandei-lhe a mensagem, quando soube… mandei-lhe a mensagem e já me ligou hoje de manhã.
Francisco Reis - Eu vi…
Armando Vara - Já me ligou de manhã, não é !
Francisco Reis - Eu estava com o Bandeira lá no, no Galito… estávamos a comer.
Armando Vara - Não. Aguarda, pá, aguarda. É evidente que os lugares, estes lugares estão sempre à disposição, não é !
Pág. 877
Francisco Reis - Pois, é pá… e eu é só dizerem-me para sair que sou um gajo bem mandado, pá, tudo porreiro e mais não sei quê. O problema, sabes qual é ? É que, eh, eh, o próximo Conselho de Ministros vai ser a última oportunidade que há de nomear administradores públicos, eh, porque no período que medeia a convocação de eleições e… (imperceptível)…
Armando Vara - Não vai nomear, tá descansado.
Francisco Reis - …não pode nomear ninguém, pá.
Armando Vara - Está descansado que ele não vai nomear, pá.
Francisco Reis - Eu, eu percebo isso, pá. Agora a loucura da gaja, pá, num… não se percebe, pá… não se percebe.
Armando Vara - Vais-te manter onde estás, pá, tudo ok, pá.
Francisco Reis - Bom. Ó Armando. Eh, como… como deves imaginar, eh..
Armando Vara - Se houver novidades manda-me um toque, está bem ?
Francisco Reis - Tá bem. Como deves imaginar eu agora vou, vou ser atacado pela gaja todos os dias, mas vou-me aguentar.
Armando Vara - Não vais, ó pá, não vais nada. Ela nem sabe que foste… ela nem sabe de nada, pá… não é ? O assunto foi exposto ao Primeiro Ministro… O Primeiro Ministro disse que tenham… tenham juízo.
Francisco Reis - Eu vou mas é…
Armando Vara - Tá ?
(…)
Francisco Reis - Bom dia, adeus.”
(Produto 253, do Alvo 1X372M).
O teor destas conversas vai de encontro ao que, antes da sua própria audição, foi explicado pela testemunha Francisco Cardoso dos Reis quanto à intervenção de Armando Vara (que ele assumiu nessa conversa telefónica) na sua manutenção na presidência do CA da CP, ao contrário do que lhe havia sido comunicado pela sua tutela directa, a Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, invocando esta a vontade do respectivo Ministro e do próprio Primeiro Ministro.
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Conclusão (minha)
Assim podem compreender melhor como se faz a justiça em Portugal e como se condena quem se quiser com coisas destas.
=> Condenação a 5 anos de prisão efetiva por tráfico de influências.
Conversas privadas entre pessoas que se conhecem, embora mostrem um certo jogo de influências, uma linguagem muito livre, quem atira a primeira pedra de nunca ter falado ao telefone com amigos sobre outros amigos?
Estaria mais de meio Mundo preso.
Só espero que desta vez não seja por coisinhas pescadas com tanto esforço.
Ou provam crimes a sério, ou ficamos com esta sensação de mal estar no estômago de poderem estar a condenar alguns inocentes, como aconteceu nos processos Casa Pia e Face Oculta.
Quantos recursos gastos para fazer escutas, horas, dias e meses, para depois escolher umas partes destas quase ridículas , em vez de usar os "poucos" meios disponíveis para investigar os milhares de milhões desaparecidos nos submarinos e nos bancos BPN e BES, Câmara de Gaia, subsídios a técnicos de aeroportos que não têm atividade, etc., etc., etc., etc., etc.
Este processo, tal como o outro, não é político, pois não?
Então é o quê? Talvez uma doença mental ... !