Segunda-feira, 31 de Outubro de 2016

Manipulação jornalística - todos os dias

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Miguel Silva Luís Claro 31/10/2016 08:29

 A entrevista:

A deputada do PS diz que é «profundamente institucionalista» e garante que não tem ambições políticas. «Não há nada que me apaixone mais do que ser deputada».

 

É deputada desde 2011. Em que condições é que foi convidada?

Não estava à espera, mas penso que teve a ver com o meu percurso. Duas mulheres tentaram casar e o casamento ainda era um direito exclusivo de pessoas de sexo diferente e eu foi uma das pessoas que dei um parecer pro bono para que essas duas mulheres pudessem casar alegando que essa proibição era inconstitucional. Esse parecer foi publicado em livro e, quando começaram os debates em Portugal, comecei a ser chamada para esses debates e comecei a ser vista publicamente muita ativa nisso. Ao mesmo tempo fiz algum comentário político na televisão porque dava aulas de Direito Constitucional, Direito Internacional Público e Ciência Política e fazia comentário público ocasional. Isso deve ter sido observado por parte do PS, esse meu ativismo, e um dia recebi um telefonema do Marcos Perestrelo a convidar-me.

 

Não estava à espera?

Foi uma absoluta surpresa. Sempre tive interesse em dirigir a minha atividade profissional para coisas que tivessem interesse público e algumas coisas que de alguma maneira pudessem mudar a vida das pessoas. Sentia-me profundamente infeliz na advocacia. Fui advogada mas acabei por abandonar e dedicar-me ao ensino. O ensino foi a minha grande paixão toda a vida.

 

Foi escolhida por José Sócrates para as listas do PS. Ficou desiludida quando veio a público este processo em que ele está envolvido?

Tenho um sentimento dúplice. Como advogada acho que está a demorar tempo demais para que, após uma detenção e uma prisão preventiva de quase um ano de um ex-primeiro-ministro, saia uma acusação ou que se arquive porque não há matéria para a acusação. É qualquer coisa que me perturba. Espero que a justiça faça o seu curso e que, de uma vez por todas, faça o seu papel. O que não se pode continuar é neste limbo de permanente adiamento do prazo de acusação. Isso leva a um desprestígio da justiça e a que as pessoas fiquem indiferentes ao que acontece na justiça porque já dão o processo como que resolvido nos meios de comunicação social e isso é a grande degradação de um dos pilares do Estado de direito.

 

Não é condenável, independentemente do que venha ou não a provar-se na justiça, que um primeiro-ministro receba dinheiro de um construtor civil?

Evidentemente que as coisas que José Sócrates já admitiu são eticamente condenáveis. Teve um comportamento que, para mim, é eticamente condenável do ponto de vista daquilo que deve ser a conduta de um primeiro-ministro. Fosse José Sócrates ou outro primeiro-ministro qualquer.

 

Gosta de ser deputada ou admite aceitar outros desafios, como ser candidata a uma câmara? Falou-se na possibilidade de ser candidata em Cascais.

Isso é mentira. Inventaram que eu era candidata a Cascais. É mentira.

 

Não tem outras ambições políticas...

Não há nada que me apaixone mais do que ser deputada. Não há outro cargo que me apaixone mais do que a representação do povo aqui no Parlamento. E deixe-me dizer-lhe que o ano passado ficará marcado para mim para o resto da vida, porque eu faço parte de uma geração que assistiu toda a vida à impossibilidade de o PS se coligar com os partidos à sua esquerda. Pertenço a uma geração que ansiava há muito tempo que se curassem as feridas de 1975 e ter feito parte de um momento histórico em que a vontade expressa dos eleitores foi esmagadora no sentido de afastar a política de direita é marcante. Termos sido capazes de nos entender em prol da vontade dos portugueses foi um momento histórico. E, portanto, não tenho nenhuma ambição política no sentido de um dia ser ministra ou... A minha vida é o Parlamento. O Parlamento corre-me nas veias.

 

Há aquela ideia de que os deputados trabalham pouco e se limitam a obedecer às ordens do partido. Acha que é uma ideia injusta?

Penso que a opinião pública começa a perceber que o trabalho dos deputados não é só o plenário. Os deputados não se limitam a estar no plenário, que é a parte menos musculada do nosso trabalho. É um trabalho muito exigente. Eu, pelo menos, não consigo fazer mais nada e tenho o dia totalmente preenchido.

 

Está em exclusividade. Seria mais transparente todos os deputados estarem num regime de exclusividade com defende, por exemplo, o Bloco de Esquerda?

Não faço juízos definitivos, porque por um lado querem os políticos em exclusividade, mas, por outro lado, há o discurso populista no sentido de que os políticos devem ganhar pouco. Não acho que tenha de haver exclusividade absoluta. Não vejo problema nenhum em uma pessoa ser deputada e ter outras funções, desde que existam regras apertadas que permitam obstaculizar qualquer conflito de interesses na elaboração da legislação e na votação da legislação. A profissão mais complicada é a de advogado, mas não faz sentido uma pessoa que é psicóloga deixar de exercer. Não pode ser psicóloga? Não tenho uma posição definitiva. Tomei uma posição em relação a mim própria por ser advogada.

 

Ganha menos do que ganhava?

Muito menos.

 

Os políticos devem ser aumentados quando o país ultrapassar esta crise?

Devia haver uma reflexão sobre o sistema político e sobre a forma como nós queremos valorizar a República, e a valorização da República passa pela forma como os políticos são tratados, nomeadamente a remuneração. Não há que ter medo de encarar essa questão e, nesse sentido, acho que os políticos são mal pagos. O Presidente da República ganha mal, o primeiro-ministro ganha mal...

 

Está em discussão o salário do presidente da Caixa Geral de Depósitos. 420 mil euros por ano não é excessivo?

A Caixa funciona em regime de concorrência e, portanto, entendo que possa existir um regime especial em relação à remuneração se queremos bons gestores. Não há muitos bons gestores disponíveis a ganharem o mesmo que ganha primeiro-ministro. Daí a esse valor vai uma distância muito grande. Não é um dossiê que eu tenha acompanhado de perto mas, pelo que soube, a pessoa que foi indicada disse que não aceitava o lugar se ganhasse menos do que ganhava no lugar anterior. Isso é uma coisa que desde logo me choca. Não concordo com a ideia dos 90% do salário do Presidente da República, mas também me choca que quem vá para a administração da Caixa não perceba o que é a Caixa Geral de Depósitos. Acho que se podia encontrar um meio-termo.

_________________________________

Onde eu quero chegar

O título do editorial tinha de ser Sócrates – no sentido condenável…

Tendo em conta esta transcrição:

“Está a demorar tempo demais para que, após uma detenção e uma prisão preventiva de quase um ano de um ex-primeiro-ministro, saia uma acusação ou que se arquive porque não há matéria para a acusação”.

Também podia ser:

Caso Sócrates está a demorar tempo demais.

Ou seja,

De um longo texto o jornalista escolhe aquilo que lhe convém. Faz o seu juízo, condenação e aplicação da pena. Três em um!

Faz este e muitos outros jornalistas, ditos “jornalistas”, mas que, de verdadeiros jornalistas não têm nada.

No fundo caçam os entrevistados para porem na boca deles aquilo que o jornalista quer que fique na cabeça dos leitores (os mais distraídos e imbecilizados).

Os jornais de sarjeta que mais recorrem a estes estratagemas são o Correio Manhoso, a "I"-mbecil e o "Sol-zeco". Nas TVs temos o cabeça chata Rodriguinhos dos Santos e o grande economista de bancada o Zé Gomes.

 

Mas as virgens não podem ser criticadas. É logo "obstrução à informação", mudam de assunto durante a conversa, cortam a palavra aos entrevistados, etc., etc.

publicado por Eu mesmo às 11:37

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