Ouvimos todos falar de julgamentos da inquisição, interrogatórios da GESTAPO e da PIDE, mas não fazemos ideia concreta do que sejam. Alguns filmes e leitura de livros dão-nos a ideia do que seria o interrogador insistir continuamente até o suspeito ter de dizer o que os outros queriam ouvir, fosse verdade ou fosse mentira.
Tenho assistido com alguma frequência na televisão, às sessões da comissão de inquérito à tentativa de compra da TVI / Média Capital pela PT. O “interrogatório” a Henrique Granadeiro no dia 30 de Abril de 2010 foi particularmente representativo do que é todo aquele mau espectáculo.
Os inquisidores João Semedo do BE, João Oliveira do PCP, Cecília Meireles do CDS e Pacheco Pereira do PSD fizeram–me lembrar o que seriam os julgamentos da PIDE. Henrique Granadeiro foi particularmente controlado, calmo, educado e credível nas respostas. Já os interrogadores, repetiram todos as mesmas perguntas: “Desde quando é que conhece o Dr. Rui Pedro Soares?”, “Em que dia falou pela primeira vez com Rui Pedro Soares?”; “Quantas vezes falou com Rui Pedro Soares?”; “Sabe de quem é que Rui Pedro Soares é amigo?”; "Quando jantou com Sócrates?" ; "O que lhe disse Sócrates?"; "O que pensou do que disse Sócrates?", etc., etc..
Incrível a insistência em certas perguntas! Enquanto a pessoa não responde da maneira que mais convém aos inquiridores estes não param. Até ultrapassaram o tempo que lhes era dado e depois começaram a discutir com o presidente da comissão Mota Amaral: “Desculpe Sr. Presidente, mas deu mais tolerância de tempo a este ou àquele …”.
Em resumo – um nojo de inquérito! Um comportamento deplorável.
Aqueles senhores têm o seu momento de glória a fazer interrogatórios. Parece claramente haver um espírito de justiceiro ditador. Acham-se com um poder superior, com uma moral irrepreensível. Sabem que estão a ser vistos nas televisões e então sentem uma importância superior. Pessoas perigosas que não seriam muito diferentes dos juízes de tribunais populares nos tempos de ditaduras brutais. Não agridem os inquiridos fisicamente mas a coacção psicológica está bem presente e é indisfarçável a mesma índole dos antigos algozes.
As pessoas estão ali para serem “queimadas”. Os juízes são os acusadores, pois eles próprios votam por maioria a sentença final.
Feio, feio, muito feio.
Aqueles senhores, pagos por todos nós, pois nada produzem que tenha valor, que sirva para compensar o défice português, passam quatro semanas da sua vida a chatear meio mundo, para saberem se o primeiro-ministro sabia ou não sabia de um negócio que não se realizou. Isto é história. Não se esqueçam de contar aos vossos filhos e netos. Isto aconteceu no século XXI em Portugal.