Desde os governos de Cavaco que Portugal tem sido sempre muito bom aluno. Muito bem comportado, sempre exemplar, mas à boa moda latina, tanto de pedinchão e oportunista, como de falta de visão para o futuro.
Passo a explicar: A Comissão Europeia, sob o comando da Alemanha e da França (já nesse tempo), acharam que a Europa tinha excedentes alimentares, então criaram regras para se deixar de produzir. Tratou-se na realidade de um acordo a chamada regra do "standstill".
Aplicpou-se aos produtos agrícolas, pescas, outros recursos naturais.
Só para o exemplo do leite:
Veja-se nos mapas como os países do centro da Europa produzem mais de dez vezes mais leite do que Portugal e nós ainda apanhámos com as ditas cotas.
Mas nunca foram considerados excedentários a produção de automóveis alemães e franceses, os telemóveis finlandeses, etc..
Já não se encontram dados dos governos de Cavaco, mas ainda em 2008 saíam notícias sobre a assunto do leite e outros:
De acordo com os dados da CAP, na campanha de 2005/06 cerca de 2.625 produtores abandonaram o sector e na última (2006/07) foram mais 2.000 a fazê-lo, o que torna a situação do sector "muito complicada".
"O que tem havido é incentivos para os pequenos produtores abandonarem a produção. Em 12 anos, de 80 mil passamos a ter 12.000. As políticas foram neste sentido e a produção de leite diminuiu drasticamente, com os custos associados à produção por sua vez a aumentarem brutalmente", disse à Lusa João Dinis.
"O governo francês deu autorização aos produtores para aumentarem a produção, por pressão da indústria, o que resultou numa pressão muito grande em escoar este leite, designadamente para Espanha e Portugal", explicou à Lusa José Oliveira que preside à Leicar - Associação dos Produtores de Leite e Carne.
Em resumo:
A Sra Europa (a dos bons trabalhadores) criaram as cotas para que cada país tivesse um limite máximo de produção. Pagaram aos pequenos produtores dos países mais frágeis para deixarem de produzir, com a justificação da manutenção dos preços. Depois, forçaram a liberalização do mercado e invadiram os países “preguiçosos” com produtos abaixo de custo de produção para escoarem os seus próprios excedentes (apoiados pelos seus governos).
O exemplo explicado para o leite ter-se-á passado quase igual para o vinho, para as batatas, para o milho, para o tomate, para a pesca, para a carne, etc.
Em duas décadas, Portugal perdeu 40% da sua frota de pesca. Com o forte contributo da política de reestruturação e de abate financiada pela União Europeia, passámos de 14 mil embarcações, em 1986, para as actuais nove mil.
No mesmo período o número de automóveis de alta cilindrada e de luxo terão aumentado mais de dez vezes. Basta andar na estada para confirmar. Contem.